Conceitos-chave (4)

A Terra está aquecida no mercado

Sob o panorama de um primeiro e feliz prognóstico em dados: está comprovado o potencial brasileiro e o pioneirismo em escala de práticas sustentáveis do país. Seja pelo nosso potencial florestal, seja pelo histórico de nossas indústrias. Somos líderes em energia limpa e renovável, temos as maiores reservas florestais do planeta, temos um mercado massivo de créditos de carbono a ser desenvolvido, somos pioneiros em práticas de agricultura sustentável e somos líderes em soluções bioindustriais em diversos setores.  

 

Em termos práticos, hoje, 85% da matriz energética brasileira é renovável, temos aproximadamente duas vezes o território de Portugal (17 milhões de hectares) de plantio integrativo ILPF (Lavoura, Pecuária, Floresta), o equivalente ao território Alemão em manejo de solo sustentável via plantio direto (36 milhões de hectares), 75% da frota de carros aderente a biocombustíveis, juntas indústrias de aço e cimento brasileiras evitam a emissão de 32 milhões de toneladas de carbono por ano – aproximadamente 30% menos que a média mundial – e um incontável potencial em ativos bioindustriais.

 

Assumir o papel de liderança no assunto e sediar esse diálogo não é apenas uma oportunidade como uma responsabilidade do mercado brasileiro. 

 

O senso de urgência e extremo dos impactos norteiam conversas duras e números altos. Sem dúvidas, ainda é preciso muito investimento e desenvolvimento. Globalmente, estima-se USD 110 trilhões investidos em todos setores e regiões para atingir as demandas atuais de eficiência climática. 

 

E, para começar, o mercado financeiro é o primeiro destrave necessário.

Em um modelo de transição, é preciso criar uma estrutura de financiamento e fluxo de capitais que permita a sua consolidação. Em uma economia baseada na natureza não poderia ser diferente.

 

Com um potencial de gerar 2Gt de CO2 por ano – o equivalente a 70% das emissões da União Européia e atingir um mercado de USD 65 bilhões somente em carbono – ou seja, apenas um pedaço da parcela de mercado de soluções climáticas disponível – é inevitável que essa conversa comece a ter força nas estruturas de capital brasileiro. 

 

Mecanismos de financiamento estão trazendo grandes números de capital a fim de consolidar a aceleração das soluções, metodologias, técnicas e negócios que podem gerar lucro e sustentar a vida no planeta, ou, como apresentado no evento da Capital for Climate: as soluções baseadas na natureza. 

 

Dentre as muitas atividades, a institucionalização clara e sólida de questões socioambientais é a primeira delas: adotar posicionamento multilateral de um país líder em soluções climáticas e guiar o mercado para responder de acordo. A clareza no direcionamento de recursos e prioridades para sua aplicação pode parecer um primeiro passo simplista – e, na sua grande verdade: é bem simples mesmo – contudo, limites de direcionamento são a melhor forma de qualificar e quantificar resultados. 

 

Com isso, o trabalho consiste em organismos públicos e privados estabelecendo lógicas conjuntas de acesso a diferentes formatos de capital que incentivem e cobrem bancos, fundos, empresas, indústrias, startups e consumidores a adotar práticas, tecnologias e modelos sustentáveis de mercado como premissa irrevogável.

 

A atenção e os números são altos, assim como a responsabilidade. Somos formados pela lógica capitalista, logo não é preciso ir muito distante para entender o poder de educar que o dinheiro possui. O que representa um passo importante e até mesmo bastante oportuno do contexto: além da pressão social e ambiental em prol da eficiência climática, agora demos início à pressão econômica. 

 

Legal, mas e como ficamos nós com tudo isso?

 

Diariamente, os grandes aparatos da economia mundial decidem muita coisa por nós. Dos preços às dinâmicas e tendências, muitas se podem resumir com a simples frase: siga o dinheiro. Em algum momento, não necessariamente equitativamente distribuído, esses grandes dinheiros chegam e impactam a todos nós. 

 

De um lado, um cenário econômico global incerto. Do outro, fluxos massivos de capital pelo clima. Saber como analisar e entender as reais oportunidades como pessoas e empresas nesse contexto não é apenas sobre ter um diferencial, mas também uma questão de sobrevivência financeira

 

No recorte cotidiano, compreender e estabelecer uma lógica de sobrevivência baseada na natureza a longo prazo pode ser o melhor investimento para você e sua família. E não é uma sútil coincidência. Famílias e pessoas que saíram de centros urbanos para regiões onde a economia de impacto positivo e proximidade de ativos naturais eram mais desenvolvidas vêm sendo exemplo tanto de indicadores de felicidade e bem-estar como de desenvolvimento econômico e sustentabilidade financeira. 

 

Nas empresas e negócios, entender como se posicionar e cumprir as demandas de adaptação climática pode ser a chave não apenas para acessar investimentos e oportunidades, mas para reter talentos e consumidores. Além dos dados relacionados à crescente demanda por produtos e serviços com pegada ecológica, estudos recentes mostram que 47 milhões de pessoas irão sair dos seus empregos globalmente até 2027 por não estarem satisfeitos com as questões ambientais dentro das empresas. Sem falar nas legislações e leis que cada vez mais buscam cobrar e sancionar a pegada socioambiental. 

 

É uma mudança gigante e inevitável de acompanhar. O reflexo de todas essas conversas afetam diariamente nossos relacionamentos, carreiras, resultados em negócios, sucesso de investimentos e na valoração de ativos e bens. E, apesar de isso convocar um compreensível frenesi, podemos acalmar os nervos, pois a solução definitivamente não é sobre vender tudo e sair comprando árvores. 

 

Tanto no Brasil quanto no mundo, temos referências e estruturas de apoio para nos adaptar. Seja como profissionais ou como empresas, não é um lugar distante de ser atingido e existem modelos a serem seguidos. Cursos, selos e certificações são um primeiro passo. 

 

Mas, afinal, o que é o blended finance e por que precisamos falar dele?


Em um mundo ideal, cada organização compreenderia exatamente qual risco lhe compete e cuidaria de balancear seu próprio impacto positivo e negativo, diante de todos pontos de vista: financeiros e socioambientais. Contudo, no mundo real precisamos compensar anos de impacto mal dimensionados e inevitavelmente catastróficos. E rápido. Logo, a união de dinheiros que cuidam de acelerar os resultados é uma combinação muito além de conveniente, mas extremamente necessária. 

 

Com uma proposta de integrar diferentes estruturas financeiras, o blended finance é uma estratégia que combina diferentes tipos de capital, incluindo capital de risco, dívida, doações e investimentos filantrópicos para apoiar empresas e organizações que estão trabalhando em soluções ambientais e sociais. Essa abordagem permite que as empresas acessem diferentes fontes de capital para financiar projetos e iniciativas que inicialmente poderiam não ser atraentes para investidores tradicionais devido ao risco dos novos modelos.

 

Misturar os mecanismos de capital para investimentos em inovações no setor socioambiental é uma forma de amortecer os riscos de um mercado em transição. E eles são muitos. Riscos se manifestam desde a transição tecnológica e custos de implementação até perdas eventuais da adaptação. Assim como também se manifestam por meio de modelos de negócio que desafiam a lógica de escala conhecida, baseada na exploração intensiva de um único ativo, e propõe uma nova dinâmica de ganho de escala baseada na diversidade de ativos. 

 

O financiamento blendado, muito além do dinheiro, é parte de uma dinâmica de relacionamento sistêmico entre as organizações e, principalmente, seus beneficiários. A lógica por trás do modelo, tecnologia ou metodologia proposta, precisa ter clareza de onde e como o mesmo beneficia as partes interessadas à sua concretização. Ele parte do princípio lógico – e até holístico – de que não é possível consolidar soluções de forma isolada, mas sim entendendo claramente cada um dos papéis que sustentam um ecossistema, seus valores e, não obstante, quem paga cada conta. 

 

Entender o mecanismo é vital. Saber como demandá-los, também. Ao criar um modelo de impacto positivo e buscar o acesso de incentivos via financiamento blendado pode ser uma feliz alternativa no mundo de negócios de risco e panorama econômico mundial. O mecanismo permite que projetos e iniciativas sejam financiados de maneira mais eficiente e escalável, catalisando a estruturação de investimentos privados e públicos em inovações do setor ao evidenciar seus potenciais financeiros, sociais e ambientais. 

 

De forma macro, o mecanismo se compõe em quatro estruturas:

 

  • Fundos de private equity ou dívida com financiamento público concessional ou filantrópico atraindo investimentos institucionais;
  • Emissões de títulos ou notas com garantias ou seguros com preços concessionais de fundadores públicos ou filantrópicos;
  • Financiamento de subsídios de fundadores públicos ou filantrópicos para construir capacidade de investimentos para alcançar retorno financeiro e social esperado,
  • Financiamento de subsídios para fundos públicos ou filantrópicos para projetar e estruturar projetos que atraiam investimentos institucionais.

 

São hoje acessíveis tanto para fundos de investimento quanto para iniciativas privadas, novas tecnologias e startups. Sob uma lógica simplista, o acesso é bastante similar aos mecanismos de venture capital tradicionalmente conhecidos pelo mercado, com a diferenciação da necessidade de demonstrativos específicos do uso de capital direcionado à correção de uma falha de alto impacto socioeconômico. O diferencial e destaque está justamente em modelos que evidenciam claramente para quais falhas sociais e ambientais sistêmicas compete a cada dinheiro resolver dentro do modelo de negócio proposto.

 

No desempenhar de suas funções, um fluxo de captação blendada ideal contaria com doações e capitais de fundo perdido intencionalmente direcionados aos riscos que lhe competem e capitais de mercado aplicados à tração e sustentação de longo prazo. 

 

No Brasil, já existem diversos mecanismos confiáveis tanto de investir quanto de captar investimentos dentro deste formato. 

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