passado e futuro

Como o Passado pode engolir o Futuro?

Pode o Passado engolir o Futuro?

Em um mundo atravessado por acontecimentos improváveis e acelerado pela comunicação instantânea de eventos em escala mundial, a busca esperta de argumentações, oposições, contradições e opiniões, nos distraem do que seria relevante observar, e investem esforços inúteis em fixar certezas pela simples ilusão de se ter controle e domínio sobre o direcionamento do futuro.

A angustia que permeia o sentimento do não saber, gera tensão entre aqueles que já pressentem um futuro acontecendo e os que insistem em esgarçar o passado para acomodar o novo sem desestabilizar o que se considera seguro.

Uma alternativa à esse impasse seria reconhecer a necessidade de se construir pontes entre tempos, favorecendo a sustentação das novas visões que atenderão as novas demanda, criando horizonte para o amanhã.

Ao contrário disso, o que vemos acontecendo nesse processo, é uma enorme resistência em validar as iniciativas dos que revelam a falência estrutural dos pilares dos sistemas instituídos, e uma sabotagem aos que ousam cultivar a esperança e projetar um futuro do que ainda não se vivenciou.

Como o passado engole o futuro?

  • Negando ou esvaziando recursos para projetos que propõem mudanças nos sistemas hierárquicos, elitistas e de concentração de poder.
  • Desacreditando pensadores que denunciam a inviabilidade das velhas práticas econômicas, políticas e de comportamento.
  • Corrompendo iniciativas positivas para redistribuição de rendas e valores.
  • Forjando apoios com intenção de tirar vantagem das propostas inovadoras, recolocando-as à serviço do mesmo sistema viciado de lucro e dominação.
  • Evitando a participação coletiva, para dissolver o poder de grupos.
  • Disseminando pessimismo para esvaziar a esperança.

Como constituir um futuro, considerando que vivemos em um mundo cênico, destituído de realismo, cheio de objetos, ídolos, subjugados por modelos onde a vida parece ser cheia de fascínio e excitação?

O mundo projetado no imaginário para ser o amanhã é distopico, cheio de ameaças, e irremediavelmente falido, incitando o inconsciente de todos nós a olharmos com desconfiança e medo para tudo o que se apresenta como o desconhecido.

Estamos vivenciando um adoecimento social e alimentamos a doença com nossa desatenção e imediatismo. Uma cegueira que impede de sermos reflexivos, autorizados à reivindicar o direito à existência, com respeito e dignidade.
Como compor um futuro em um mundo em reconfiguração?

Reconhecendo o presente, e discriminando com total atenção as armadilhas que impedem que o humano em nós dignifique o sentido de protagonizarmos esse investimento comum de Ser futuro.

Onde o grande ganho será atravessarmos esses tempos sem destruir o potencial de saúde que opera em nós, que o investidor se reconheça vencedor colhendo os lucros de ser patrocinador do futuro, semeador de possibilidades e criatividade, e o propósito de todos focado na criação coletiva com ganhos compartilhados. Um mundo comprometido em garantir nossa própria existência, reconfigurando vitalidade produtiva e social de forma abrangente.

Paradoxalmente somos em estado de vir a Ser, o futuro existe em nós. Nosso caminhar é realizar destino, somos o que revelamos. Voltar à saúde individual e coletiva, demanda estabelecer uma pausa ao vazio frenético e voltar ao silêncio rico de possibilidades. Silenciar é a possibilidade de nos tornar receptivos para que o inédito surja, sem que uma fala qualquer profane o que nasce puro em resposta ao que de fato se necessite.

Deixo essa reflexão individual, na esperança de restabelecer confiança na capacidade de trazer novos saberes, que restabelecerão um verdadeiro Futuro para todos nós.

por Maria Lucia Teixeira da Silva

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