ressignificar

Mudanças Climáticas – A ousadia de pensar e agir diferente

A ousadia de ressignificar

Olhar o mundo em diferentes perspectivas, saindo do micro, ou seja do endereço onde estou, ampliando para meu bairro, cidade, estado, país, continente, planeta terra, universo. Me colocar no lugar de ser humano, que coabita com tantos outros seres magníficos em terra e mar, lembrar da minha pequenez diante da imensidão e força da natureza, sem anular a potência de mudança que vive dentro de mim, muito pelo contrário.

É quase um mantra diário, o adaptar-se por inteiro, atribuindo um novo significado para a vida, quando a vida lá fora é caos.

Nas minhas andanças por esse mundo, lembro de um diálogo profundo com uma monja budista, quando ela me disse que se você está em paz, o mundo está em paz, afinal o interior reflete o exterior. E meu questionamento tange no fato de que se eu estou em paz, como o mundo pode refletir essa paz se 2,3 bilhōes de pessoas ainda passam fome, 200 milhōes de pessoas não têm acesso a água tratada, 258 milhões de crianças não têm acesso a educação entre tantos outros números e fatos que nos provam que vivemos em um mundo desigual.

Confesso que ainda estou no caminho de encontrar esse equilíbrio, tenho dias bons e ruins a depender das notícias e desastres que acontecem, mas entendi que preciso me fortalecer e me tornar minha própria versão otimista, e assim tenho feito. É uma escolha diária olhar para o copo mais cheio.

Acredito ser importante ressaltar que essa escolha não significa romantizar, muito pelo contrário. É necessário estar de frente para a realidade nua e crua. Reconhecer os problemas, dificuldades e as tantas possibilidades de caminhos para construir uma sociedade melhor é um passo fundamental. Quando enxergamos o que está diante dos nossos olhos vemos muitas nuances e complexidades.

O desafio vai aumentando, pois no topo de um mundo já complexo, temos a maior crise do nosso século, que é a crise climática que intensifica todas as desigualdades existentes! O curioso é quando a ciência nos diz que esse é um problema criado pela ação humana na terra, pelo uso incessante dos recursos naturais baseado na ideia de que são infinitos e por construirmos uma sociedade baseada no petróleo. Sempre me pego pensando, se fomos capazes de cavar um buraco tão fundo, nós também temos o necessário para construir novos pilares para então sair desse buraco.

E por acreditar que somos capazes como humanidade de fazer diferente, eu escolho ser parte desta mudança. Quanto mais eu trilho esse caminho, mais eu percebo que ele é tridimensional, não adianta apenas fazer o trabalho mundano, se a sua alma e a sua conexão com o coletivo, com a sociedade, também não são trabalhadas.

Ao trazer novamente o exercício de colocar as coisas em perspectiva, vemos que as estruturas em nossa sociedade, sejam elas econômicas, sociais, educacionais, entre outras, estão ruindo. O que está por trás destas organizações, empresas, instituições, são pessoas. Portanto, ressignificar é preciso, e trabalhar no que Satish Kumar chama a nova trindade do nosso tempo é essencial: você em relação ao Solo (trabalho que exerce, cuidado com o seu corpo), Alma (autoconhecimento) e Sociedade (fazer pelo coletivo).

Assistir o mundo ruir aos nossos olhos, assusta! Apenas nos últimos anos já fomos atingidos por uma pandemia, conflitos geopolíticos, interrupções na cadeia de suprimentos, crise energética, alta da inflação, desastres causados por eventos extremos acarretando inclusive perdas e danos em lugares de extrema vulnerabilidade, violência desmedida, aumento da desigualdade social. A tradução do que é um mundo sem amor, em sua essência.

Porém me recuso a aceitar que esse é o único caminho. Não podemos normalizar essas situações e acreditar que há apenas esta direção a seguir. Estamos diante de uma oportunidade de construir uma sociedade regenerativa! Olhar para o futuro e nos desafiar a não pensar com a mentalidade do passado para então criar novas soluções. Isso exige coragem, ousadia, e se permitir sair da zona de conforto.

Somos seres quase que programados para a inércia, e a zona de conforto é um lugar almejado. Quando adicionamos uma complexidade que inicialmente se mostra maior que nossa capacidade de resolução, como a crise climática, acontece um efeito quase imediato de congelamento. Estudar, buscar se informar sobre o assunto e se conectar com pessoas e grupos que já tem atuado na temática é um ótimo primeiro passo.

Conforme os caminhos vão sendo desenhados, o medo se transforma em ação, que acaba nos puxando para um lugar desafiador do incômodo, para então ser efetivo e disruptivo.

Ao longo da minha jornada, entre erros e acertos e vivenciando diferentes mundos, aprendi que além de nos desenvolvermos de forma tridimensional como ser humano, para desenvolver ações efetivas precisamos de um elemento essencial: a empatia.

A mudança climática é desigual, afinal os países que mais emitem são os que menos sofrem as consequências. Um, entre tantos exemplos é o Paquistão, o país que contribui com 1% das emissões de gases do efeito estufa e em 2022 sofreu a maior chuva da sua história deixando 1/3 do país embaixo d’água e devido a sua estrutura precária, ainda hoje eles enfrentam as consequências, com surto de dengue, cólera, escassez de alimentos, e milhares de crianças ainda sem acesso à escola.

Se colocar no lugar do outro, reconhecer o lugar que você ocupa na sociedade, ter a percepção para quem você está abordando a questão climática e como você apresenta soluções é uma análise empática que precisa ser aplicada diariamente. Afinal, construir juntamente com uma comunidade vulnerável é diferente do que construir com uma empresa ou governos – todos possuem responsabilidades comuns, porém diferenciadas. E todos os atores são importantes.

Inclusive você que chegou até aqui!

Estamos em uma década especial, na qual as rupturas diante de nossos olhos abrem espaço para o novo surgir. Temos as ferramentas necessárias para mudanças estruturais acontecerem. Temos a ciência, a tecnologia, a capacidade de imaginar, a empatia, o desenvolvimento do ser humano em sua forma tridimensional.

E nessa jornada conjunta, adaptar-se por inteiro atribuindo um novo significado para a vida, enxergando oportunidades até mesmo nos piores momentos com a ousadia de fazer escolhas que coloquem nossa humanidade no trilho da regeneração é o caminho que escolho seguir.

Por Flávia Bellaguarda

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